segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Histórias de Vida : Fernando Dias Araújo, José Pires Novo,Daniel Ribeiro da Sila e Maria Freitas






 
Fernando Araújo Dias,
nascido em 29 de Novembro de 1931, em Monserrate, frequentou a escola primária e o 2º ano comercial em Viana do Castelo. Começou a trabalhar aos 13 anos fazendo de tudo, serventia aos carpinteiros, aos pedreiros, aos eletricistas, a picar ferrugem. Depois passou para paquete, "o homem dos recados", contínuo, escriturário, até chegar a chefe de equipa. Sempre trabalhou nos ENVC, donde se reformou com 45 anos de trabalho.
 


 
 
Conheceu a sua esposa, que era de Ponte de Lima, mas estava cá em Viana a "servir". Ao fim de 10 anos de namoro casaram na Igreja Matriz, em 16 de Dezembro de 1961. A sua esposa, Delfina da Cunha Antunes, doméstica, trabalhou 29 anos no Banco Espírito Santo, de onde se reformou.
São pais de dois filhos: Maria Isabel, casada e com uma filha; Ana Paula, casada e com um casal de filhos.
Passa a maior parte do tempo por casa e a esposa também não pode andar, pois não tem fémur, nem prótese. Fez cinco cirurgias.
Gostava do campo e "adorava o trabalho da lavoura", diz a esposa. É do tempo de ganhar ao jornal, 0,50 centavos à hora, antes de ir para o Banco. Reformou-se com 65 anos de idade e agora lhe pesam, embora não pareça ter 79 anos nos ombros.
"Por vezes zango-me com aquele que está acolá", olhando para um dos dois quadros da Última Ceia.
Há dias em que se encontra assim um pouca inconformada, mas há coisas piores e bem gostava de dar uma voltinha lá por fora.

José Pires Gonçalves Novo -
Numa passagem rápida por José Pires Gonçalves Novo que já não o via há alguns anos, tive uns momentos agradáveis porque comecei por encontrar no quintal a sua esposa a Maria Eunice Faria Soares, natural de Melgaço e que viajou muito com a Paróquia.
Ela era filha de Honório de Almeida Soares, escrivão de direito e de Ermelinda Juliana Bravo Faria Pereira do Lago, professora primária.
Depois da escola em Melgaço, fez o liceu e a Escola Normal para o ensino primário (hoje básico). Lecionou em Valença como agregada, Vilar de Mouros já como efetiva, Melgaço, Alvarães e Chafé. Enquanto a chamava apareceu uma nora, a


esposa do filho Victor que ainda não conhecia e gostei muito de a ouvir, mas não deixei de dar mais atenção ao pai, José Pires Gonçalves Novo, filho de José Antunes Gomes Novo e Maria Pires Moreira, ele empreiteiro (mestre diplomado em construção civil, dos únicos do tempo) e a mãe, doméstica.

Entretanto trabalhou com o pai depois dos estudos industriais e depois foi para chefe de conservação de Estradas e acabou reformando-se dos ENVC, onde trabalhou como desenhador. Chama à esposa, a "Mariazinha" e conheceu-a no comboio, mas só no Congresso Eucarístico é que deram a mão, começando a namorar, casando com a "Mariazinha" em 26 de Dezembro de 1949, na Igreja de Remelhe, concelho de Barcelos.

Conheceu muito bem os meus pais. A minha irmã tem a mesma idade porque em 1939 a estrada de Mazarefes levou a primeira recarga de pavimento que já nessa altura seria uma estrada do século XIX.

Namoriscou lá na minha terra com a filha dos Cordoeiros de Cima, aos de Charrete, com uma da casa das marinheiras e com a Isabel, filha do Tenente Pimenta, do exército e a filha de Alexandre, a filha de Maria da Mata , a Francelina.

O Novo nasceu a 22 de Julho de 1920 mas o seu caminho foi outro e é um homem feliz, realizado e vive no conforto da mulher e da família. O Victor não tem geração, mas o deputado Honório Novo é pai de duas filhas.

Honório Novo reúne em si a delicadeza e a inteligência como bom eloquente e escritor, o respeito e a relação humana que herdou dos pais.

Daniel Ribeiro da Silva -
tinha 5 irmãos e morreu-lhe uma irmã que ficou viúva 3 semanas depois do casamento e ela faleceu um ano depois. Nasceu em Agosto de 1944, filho de Manuel Gonçalves da Silva e de Rosa Maria Regueiro, em Fontão, Ponte de Lima. Fez a escola primeira em Fontão e foi para o Seminário de Nossa Senhora da Conceição popularmente conhecido pelo "Seminário da Tamanca". Aí fez 4 anos de humanidades e completou o 5º ano, feito no Seminário de Santa Margarida, continuando em Santiago a cursar Filosofia.

 
Em 1966 foi para o serviço militar (dois anos no continente e 2 anos no "Ultramar", Norte de Angola).

Trabalhou nas Finanças de Ponte de Lima cerca de um ano, mas em 1972 entrou no Banco Pinto & Sottomayor, depois passou para o BCP e reformou-se aos 55 anos.

 
 
Era vizinho de Rosa Maria Gonçalves da Silva e enamorando-se um do outro vieram a casar em 1971 em 10 de Janeiro, na Igreja Paroquial de Nossa Senhora de Fátima, ainda a igreja estava dentro do quintal do convento com o portão virado para a Rua da Bandeira. A Rosa era filha de João Cândido da Silva e de Maria Romana Pereira Gonçalves, negociante de gado e mais tarde industrial. É irmã de 8 irmãos e irmãs, todos casados e com geração, à excepção de Filomena, a mais velha dos irmãos.

Ela foi sempre doméstica enquanto solteira e depois de casada. Daniel e Rosa são pais de 5 filhos, sendo 3 já casados e com geração.

Maria de Freitas
fez em Novembro 92 anos de idade. Nasceu a 19 de Novembro de 1920, em Viana, na casa dos Bombeiros. A mãe faleceu quando ela era pequenina e não a chegou a conhecer, mas ficou bem recomendada.

Andou na escola e lê com facilidade. Com a ajuda da professora e da esposa do inspetor dos Caminhos de Ferro, descobriu o pai, que na altura andava na guerra. O pai apareceu para levar a filha, mas ela já estava a ser criada por uma tia que a "adoptou". A tia não a deu, a tia Maria que foi morrer na Caridade.

A Maria foi sardinheira e cantarolava como todas as outras: "Ai que vivinhas e boas!...". Lá vinham ao caminho ou à janela "Ó Miquinhas a como são?". Conforme os casos, ela lá respondia de acordo com a compra e com o seu ganho: "Cinco tostões o quarteirão".

Foi servir para uns patrões, ele inspetor dos Caminhos de Ferro, para o Porto, a ganhar 30$00 (trinta escudos, que hoje correspondem a 15 cêntimos) por mês, com direito a roupa de casa. Não ficou por aí, casou.

Casou com Sebastião Gonçalves Pereira Lima que trabalhava nos Caminhos de Ferro. Depois veio para a Garagem Avenida e foi para os ENVC.

Foi difícil casar com Sebastião porque já tinha três filhos de solteiro e, por isso, ela não o queria. Ao ir para o Porto foi para fugir aos olhos dele, e à sua perseguição amorosa mas ele insistiu e conquistou-a para casar e deu-lhe a Maria Rosário, Constança, Conceição, Manuel, José e Fernando. Casou com 21 anos, aqui em Darque, na Igreja Paroquial.

Os patrões do Porto sempre foram amigos e a ajudaram a "criada do menino". Mais tarde, um sobrinho casou com uma filha do antigo patrão do Porto.

Lembra-se de muitas coisas antigas da vida.

A Maria Freitas acrescentou: "Era tempo de muita fome em que se comia flocos de aveia... Quando estava grávida da mais velha, foi a pé a Vila Franca carregar um saco de farinha para casa. Dos filhos que teve, no parto, nunca se tratou e recuperou energias com 12 galinhas ou galos, mas com água-de-unto e não precisei de mais nada e estou aqui com mais de 90 anos."

Esquecia-se de dizer que tinha sido feirante de hortaliças nas feiras do distrito.

Lembrou o Pe. Manuel Ferreira, antigo prior, que fazia a matança do porco e distribuía pelos pobres e vizinhos.

Hoje a Maria Freitas vive em Darque, no conforto dos seus filhos, genros e noras, e conversa com facilidade.

Apesar de tudo, diz ela: "E eu ainda não morri! Estou aqui!".

A. C.

Sem comentários:

Enviar um comentário