sábado, 17 de novembro de 2012

Obras valem mais do que as palavras



 
Sonhemos uma sociedade utópica, a por­tuguesa. onde os cidadãos não têm de ser pedintes e os direitos não são favores, tão constitucionalmente democrática que asse­gure a coesão social, na equitativa redistribuição da riqueza para vencer qualquer “apartheid" social.

Mesmo em tal paraíso, as meritórias obras das misericórdias, das mutualidades e de outras modernas instituições de solidarie­dade social ainda têm voz e vez para o seu voluntariado generoso, sem necessidade se­quer de dar por caridade o que a todos é devido por justiça.

Declarações de Isabel Jonet à SIC Notíci­as. na semana passada, causaram ondas de indignação na blogosfera e nas redes soci­ais. A presidente do Banco Alimentar Contra a Fome afirmou que “vamos ter que empo­brecer muito, mas sobretudo vamos ter de reaprender a viver mais pobres"; que as pessoas não têm dinheiro, então não podem comer bifes todos os dias: que “vivíamos muito acima daquilo que eram as nossas possibilidades”, acrescentando que "há uma necessidade permanente de consumo e de bens para uma satisfação das pessoas e que conduz à felicidade que não é real": e ainda que “em Portugal não temos miséria” (como. na sua opinião, acontece na Grécia).

Isabel Jonet preside ao Banco Alimentar Contra a Fome e à Federação Européia dos Bancos Alimentares Contra a Fome. que reúne 247 instituições na Europa.

O Banco Alimentar Contra a Fome é uma obra voluntária de bem-querer e de bem- -fazer. Tem sido. Em Portugal, onde as pes­soas sofrem as dores reais da pobreza, um paliativo em situações dramáticas de tanta aflição.
 
 
 

Sabemos bem que. na pobreza e na miséria, nem sequer as costas folgam enquanto o pau da justiça vai e (não) vem. Disso não se ilu­dam os bem pensantes, sobretudo os que em solidariedade nem sequer mexem uma palha, a não ser a ligeireza das suas palavras exal­tadas de protestos que presumem sempre politicamente corretos.

Admito que Isabel Jonet não foi feliz em linguagem mediática. mas não posso esqOe- cer quanto lhe devem as pessoas beneficiá­rias do Banco Alimentar Contra a Fome.

Já agora, os responsáveis das misericórdi­as. Mutualidades e instituições de solidarie­dade social sejam prudentes para que evitem a colagem ao Poder político e para que as suas práticas fujam do assistencialismo como o diabo da cruz. Quando dão por caridade, façam-no como quem mais exige da justiça, para que as suas boas práticas respeitem a j identidade e a dignidade das pessoas, a começar pelos pobres, bem como defendam! a promoção do bem comum em redes da solidariedade e de subsidiariedade.

Lamento que Isabel Jonet tenha sido “quei­mada” nas redes sociais. Não posso imagi­nar que isso sirva de pretexto para que al­guém se escuse a colaborar em próximas campanhas de recolhas de bens para socor­rer portugueses com fome. □
                                        conegoruiosorio@diocese-porto. in Voz Portucalense

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