Saber sofrer para vencer
Os direitos adquiridos ao
longo dos tempos, quer pelas pessoas quer pelas instituições, são, nos dias de
hoje mera panaceia para esquecer.
Temos de ter consciência
que o mundo está em mutação e que o nosso quintal não é só nosso: temos de
repartir as couves e as cebolas pelos que têm fome. É um facto. Mas, aquilo que
devemos exigir é que a maior fatia seja nossa, porque trabalhamos a terra e
temos direito à primeira e melhor colheita. É justo.
Se pensarmos que existe
fome em muitas partes do globo, mais nos devemos importar e preocupar, pugnando
por combater este flagelo.
A nossa entrada para o
«clube dos ricos» criou hábitos subsidiários e consumistas, que se enraizaram
no modus vivendi do povo
português (e não só), que vai ser difícil eliminar ou corrigir.
Passamos de oito pora oitenta, sem estabilizar
em quarenta, que seria o
patamar que nos permitiria viver confortavelmente, sem sobressaltos, não
esbanjando aquilo que a outros faz falta. Contribuímos, desta forma, para o
desequilíbrio dinâmico do mundo, que não se compadece com conjunturas
políticas, econômicas ou sociais.
A posição de equilíbrio é
estática, mas exige dinamismo para se manter, porque se não cai, qual
trapezista em cima da corda. É um dinamismo cruel e sofrido aquele que se vive
para alcançar o desiderato que se pretende atingir, neste caso uma forma de
vida condigna.
0 mundo em que vivemos
está em desequilíbrio com os muito pobres e os muito ricos, sendo necessário
passar para a posição intermédia, sem que a balança pese mais para um lado
(neste caso o da pobreza), porque o ser humano precisa de comer para sobreviver
e todos sabemos do que somos capazes para conseguir esse estado.
Para se conseguir o
equilíbrio dos dois pratos da balança temos de tirar de um lado para o outro.
É preciso que os que mais têm se limitem ao necessário, abdicando do supérfluo
a favor dos que mais precisam. É uma verdade de La Palice, dirão uns, outros
afirmarão que é uma utopia e que jamais o mundo conseguirá atingir esse estado
de equilíbrio. Concordo em parte com estas duas posições, mas, se cada um de
nós nada fizer para modificar estas condições anômalas, o abismo entre ricos
e pobres aprofundar-se-á, criando desigualdades insanáveis e injustas.
Nos tempos que correm e a
despeito de pagar a dívida que outros contraíram, este Governo está a
contribuir para o aprofundamento do abismo em que nos encontramos. Mas não nos
deixemos cair em desânimo. Foi em momentos de crise, alguns até piores, que
soubemos dar a volta por cima.
Assim o queiramos. Manuel Oliveira Martins, In Aurora do Lima
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