sábado, 3 de novembro de 2012

A Morte não pode ser fim


O mistério  da morte

 A morte é uma questão es­sencialmente antropológica. Coloca-nos a interrogação do significado da vida e o senti­do de toda a existência humana. Por isso é também uma questão ética, filosófica e teológica.

Ela faz parte da natureza do ho­mem, mas, ao mesmo tempo, transcende-a. E é o único ser ca­paz de viver a própria morte. Ao contrário dos animais, o homem carateriza-se pelo seu próprio EU, pela sua singularidade, a cons­ciência do seu ser e do seu saber, aliada a uma vontade imensa de se superar, de se ultrapassar e ir para além do próprio corpo.

É vencendo-se como homem que o sujeito consegue elevar-se aci­ma da humanidade e procurar perpetuar-se para sempre, imor­talizando-se.

O homem é a única espécie viva que sabe que deve morrer. Daí a necessidade de transpor esta rea­lidade para o plano racional, re­flexivo e espiritual.

O ser humano é mortal desde ar sua conceção. Ele é “um ser para a morte". A qualquer mo­mento, este destino se pode cumprir. O confronto com esta realidade impele-nos a repensar a vida, na busca de uma autor- realização da pessoa humana e a um aprofundamento da auto- consciência no sentido de cum­prir a existência em pleno antes que tarde nada sermos.

Perante a morte, há uma radical impotência do homem face ao presente terreno e, no limite da vida, face ao todo numa dimen­são transcendental.

A morte confronta-nos com o mis­tério do absoluto na medida em que não sabemos o que é morrer, nem estar morto, a situação de já

expetativa de passar a existir do outro lado da vida”.

É esta experiência do incognito que conduz o homem a um pro­cesso da maior humanização e busca de compreensão.

Desde as civilizações mais remo­tas, em todas as culturas, o ritual de enterrar os mortos sempre foi muito seriamente vivido, com ritos próprios e sagrados, não obstan­te a religião praticada.

Filosofar é preparar-se para a mor­te dizia Cícero, retomando a linha de Platão, para o qual a vida in­teira do filósofo mais não era do que uma preparação para esse inevitável fim.

Também Santo Agostinho, nas suas Confissões, nos deixa esta perplexidade: “Que pretendo dizer, Senhor, meu Deus, senão que ig­noro donde parti para aqui, para esta que não sei como chamar, se de vida mortal ou morte vital”. Só o cristianismo ousou trans­formar a morte numa vitória, na­quilo que não era, pois encarou-a como um fim/princípio de outra e definitiva vida.

Não é uma teoria nem uma opi­nião, mas uma promessa de eter­nidade que propõe a todo o ho­mem, finito e mortal, algo mais do que o absurdo duma existên­cia terrena e efêmera.

Será, então, a morte um acon­tecimento único e irrepetível que vem dar à vida humana um sen­tido de totalidade, de completude dum fim, após o qual se abre ao homem “o mistério deserparalém da vida”.

Onde estarei quando já cá não es­tiver? Vale a pena insistir nesta promessa de eternidade, 
na certe­za de que é imensamente redutor e claustrofóbico não admitir uma continuidade 
para além do limite do já não ser.                                                                   
                                                                                     Maria Susana Mexia, in Diário do Minho 

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